sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Poema dos 25 anos da EB1/JI do Alto do Moinho

Queridas amigas,

O tempo tem sido mesmo quase nenhum.

Envio-vos um poema que é uma reflexão sobre o meu próprio envelhecimento. Se quiserem é sobre qualquer envelhecimento de quem continua a sonhar e faz do sonho a sua forma de respiração.

Espero que possa fazer justiça ao excepcional trabalho que aí é feito.
Um beijo e kilos de ternura deste vosso amigo,

José Fanha


BALANÇO PROVISÓRIO


Estamos mais gordos mais magros
talvez mais denso
ou mais pesado o nosso olhar
temos pressa de ternura
angústias de vez em quando
e umas contas de telefone atrasadas
para pagar.

Temos falta de cabelo
três ou quatro cicatrizes
sofremos de inquietação.
Muitas vezes nos disseram
como é rápido o deslize
mesmo assim nunca deixámos
de dar corda ao coração.

Daqueles que já partiram
guardamos silêncio e nome
e uma improvável mistura
de amargura e rebeldia
nas palavras desordeiras
que dizem redizem cantam
relembrando dia a dia
como é feita de azinheiras
a capital da alegria.

Muitas ondas já morreram
outras tantas vão nascer
muitos rios já se cansaram de correr até á foz
águas claras que se foram
outras águas se turvaram
e agora restamos nós.

Somos muitos somos poucos
calmamente radicais
sabemos vozes antigas
trazemos a lua ao peito
amamos sempre demais.

Neste caminho tomado
fomos traídos trocados
vendidos ao deus dará.
Nem por isso desistimos
e assim nos vamos achando
perdidos de andar às voltas
nas voltas que a vida dá.

Somos uns bichos teimosos
peixes loucos aves rindo
plantas poetas palhaços
e portanto resumindo
somos mais do que nos querem
estamos vivos
somos lindos.

José Fanha

Sem comentários: